BIDI - Q/R - Parte 3 - Março 2017
Mensagem de 06 de
março de 2017 (publicada em 21 de março)
Origem francesa – recebida do site Les Transformations
Origem francesa – recebida do site Les Transformations
Áudio da Leitura da Mensagem em Português - por Noemia
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Bem, Bidi
está com vocês, ele saúda vocês.
Nós vamos
juntos, se vocês quiserem, continuar a expressar a verdade do que vocês são.
Então eu espero os seus questionamentos.
Questão: você pode desenvolver sobre o caminho da devoção?
Ser
devoto, um adepto, não é devoção. A devoção se impõe por ela mesma como um meio
de se esquecer, de fazer desaparecer a pessoa e de deixar lugar à Verdade.
Vocês sabem, a vida, onde quer que ela esteja, em qualquer experiência como em
qualquer dimensão é um jogo. A devoção e o serviço são um dos meios, e não o
único, de avançar sobre a descoberta da Verdade. A dinâmica e o sentido do
movimento são totalmente diferentes. Na pessoa normal, tudo é levado ao pequeno
eu, em comparação, e está inscrito no efêmero.
O caminho
da devoção consiste tão simplesmente em esquecer de si mesmo e colocar qualquer
outro como sendo si mesmo. O movimento e o sentido da energia não têm mais nada
a ver. Doando tudo, sua presença, seu serviço, vocês facilitam de alguma forma,
a descoberta do que vocês são, esquecendo de si, fazendo não por si, mas para o
outro, para prestar serviço. O caminho da devoção é, sobretudo, concebível para
todos aqueles que não conseguem esquecer de si, para todos aqueles que querem
ir rápido e então escapar do tempo em seu próprio mental, em suas próprias
emoções, não como uma fuga, mas voltando assim a energia em direção a qualquer
outro, liberando assim os programas memoriais, os programas cármicos ligados à
pessoa. A devoção é um meio poderoso, não somente de esquecer de si, de
desaparecer, mas também de acelerar a descoberta da Verdade.
Este
caminho não é para todo mundo. É preciso já ser portador de uma grande
humildade, de uma grande simplicidade; a devoção perfeita não pode se acomodar de
nenhum outro objetivo de vida. Em outras palavras, a devoção não é o serviço
que vocês fazem a uma pessoa, mas ao conjunto das pessoas desse mundo, sem
distinção e sem diferenças. É preciso essencialmente que a humildade já esteja
presente, mesmo que ela esteja travestida pela timidez ou não importa qual
outro sentimento de não estar confortável com o ambiente, com os outros.
A devoção
é já colocar o outro antes de si. Isso leva necessária e obrigatoriamente ao
desaparecimento de todo objetivo no seio da pessoa e do ego. O ego se rarefaz
pelo serviço e a devoção. Com a devoção, vocês iluminam o Verdadeiro, e,
sobretudo, vocês evitam prevalecer o ego. Mas eu repito, este caminho não é
desejável para qualquer pessoa. Vocês não podem escolher a devoção, é ela que
os escolhe pelas características mesmo de sua pessoa e de seu Si. É preciso que
o retorno da energia e da consciência, em direção ao si ou em direção ao outro
seja efetivo e suficientemente nítido e claro para vocês.
A devoção
autêntica não pode se acomodar em nenhum objetivo pessoal, em nenhuma
finalidade de ganho de qualquer coisa sobre o plano da matéria. Distraindo o
seu mental, o desviando de sua pessoa vocês chegam a esquecer a própria
influência de seu mental sobre vocês assim como de suas emoções. A devoção é um
caminho que necessita de uma constância, uma permanência no dar de si, onde não
pode existir medida, nenhuma reivindicação em relação à pessoa. A devoção, em
outras palavras, não pode ser um ato de vontade, mas justamente um ato de abandono
de toda reivindicação pessoal, permitindo a vocês sair o mais rápido da
história, justamente pessoal.
Mas para
vocês Ocidentais é preciso reconhecer que o conjunto das estratégias elaboradas
pela sociedade não permite frequentemente exercer esta devoção com
tranquilidade, porque as leis das culturas ocidentais têm desde muito tempo me
parece, por exemplo, eliminado o prato do pobre em sua mesa. As organizações substituíram,
qualquer que seja o seu nome, os mais prestigiosos como os mais modestos, lhes
dando um sentimento de satisfação doando dinheiro. Mas não é o dinheiro que é
preciso dar, a verdadeira devoção é um dar de si e ela não tem que ser
acompanhada de nenhum dar dinheiro.
A
verdadeira devoção é livre e espontânea entre certas almas quando elas
descobrem o Si, mas por vezes há almas que inspiram, antes de sua dissolução,
um sentimento de dever trabalhar sobre a matéria, sobre o perdão. O sentido do
dar, se ele aparece em um de vocês no sentido de uma devoção, significa a
dissolução da alma, mas, novamente, isso não é uma regra geral, tudo depende,
eu diria, da coloração da alma, de sua polaridade e de sua manifestação.
Além da
devoção, o serviço, o acolher o outro, se tornam essenciais para que a alma ou
o Si descubram, então, que o outro não é senão você mesmo, em uma forma
diferente certamente, numa história diferente, mas com uma consciência Una
nascida e proveniente do mesmo lugar, baseada, quaisquer que sejam as
diferenças de aparência sobre o Único, sobre o Absoluto. Nesses tempos de final
de ciclo onde o pandemônio predomina em toda parte de maneira cada vez mais
visível, é muito mais fácil do que antes ver esta verdade. O outro não é nada
mais que vocês em uma forma diferente, em uma expressão diferente, mas isso é a
aparência. Na devoção, as aparências se esfumaçam e desaparecem. Novamente,
isso não depende de qualquer vontade, nem física nem espiritual, mas do
reconhecimento da Vida e sua Inteligência e do próprio Absoluto, mesmo que não
seja vivido ainda.
A devoção
em relação à outra coisa, por exemplo, em relação a um ídolo, uma representação
de Deus, como entre nós na Índia, não é a mesma coisa. A devoção da qual eu
falo é uma devoção ao vivente, aos irmãos e às irmãs, qualquer que seja sua
condição, porque além dessa palavra “irmão”, há real e concretamente a
percepção direta de que o outro e você são apenas um, apesar de todas as
aparências, apesar de todos os discursos e quaisquer que sejam os antagonismos
das crenças ou das religiões.
Lembrem-se
que enquanto vocês se declararem “cristãos”, “budistas”, “hinduístas”, vocês
são um ser violento porque quando professam isso, vocês excluem todas as outras
religiões. Assim como vocês dizem: “Eu sou francês”, “Eu sou alemão”, vocês são
violentos porque se definem como pertencentes a uma comunidade de qualquer
natureza que seja e vocês excluem – vocês são então violentos. O doce, o
humilde, não pode ser violento, ele não faz diferença entre as crenças, ele não
faz diferença entre aquele que está desperto e aquele que dorme, ele não faz
diferença segundo a vestimenta, segundo a riqueza, segundo a idade.
A devoção
não pode ser dirigida. É nesse sentido que eu disse: a devoção em relação aos
deuses, às imagens, há certos efeitos, mas não permite jamais encontrar a
verdade; esses são os paliativos. Eles aliviam, eles apaziguam, os deuses e as
imagens podem responder aos seus pedidos, mas os pedidos são sempre aqueles da
pessoa. A verdadeira devoção se expressa, mais uma vez, naturalmente, quando a
coloração da alma é adequada.
A devoção
não procura jamais um proveito qualquer que seja, e ela não pode ter proveito
sobre o plano denso; o único verdadeiro proveito se viverá na consciência. A
devoção também, como eu havia dito, não pode ser calculada, mas deve ser
espontânea. Esta devoção pode se expressar de maneira extremamente pontual, por
exemplo, no caso de um acidente onde vocês vão ajudar um ferido. Vocês não se
colocam nenhuma pergunta de natureza humana ou mesmo pessoal, faz com que vocês
vão espontaneamente ajudar e trazer um socorro.
A devoção
não deve fazer de vocês um salvador ou um salva-vidas. O salvador está no mesmo
nível que vocês, porque ele é o mesmo, além das aparências, além de seus
costumes, de suas crenças, ou de sua adesão a qualquer comunidade que seja. Se
vocês fazem diferença, então nesse momento a devoção não é pura, ela está
desviada em função das formas e em função da pessoa. Eu diria que a devoção
mais útil é aquela da devoção à humanidade, sem distinção. Todo o resto se
dirige aos ídolos, aos deuses, significa necessariamente um desvio da devoção,
onde a ótica pessoal, bem camuflada pelo ego está, portanto, bem presente.
Guardem essa noção de espontaneidade se expressando sem esforço, onde o
esquecer de si já é impulsionado pela própria alma.
...Silêncio...
Outra
questão.
...Silêncio...
Questão: nos tempos atuais, o que há como outro caminho?
Mas todos
os caminhos são possíveis, eu já estipulei bem que a devoção é em relação a
certas almas – e certamente não para todo mundo. O Absoluto é sem caminho, ele
é simplesmente a revelação da Verdade, sem busca, sem movimento, passando
eventualmente pelo observador ou a testemunha, pela Última Presença, pelas
vibrações. É um face a face, uma sobreposição e uma dissolução, por fusão, eu
diria, de duas funções que são, a priori, opostas: a vontade de vida, o fogo
vital, e a vontade do Espírito ou o Fogo Ígneo. Este Espírito não é pessoal,
ele não é identificável numa forma. Eu creio que vocês receberam certos
elementos, e a diferença que pode existir entre o que foi nomeado o Espírito do
Sol, então ligado a uma forma, e o Impessoal que não está ligado a nenhuma
forma.
Um
caminho será sempre no exterior de si. Lembrem-se, não há pessoa a seguir, há
justamente a ser, descobrir o “Eu sou” e soltar o “Eu sou” tendo passado eventualmente
para o “Eu sou um”. Mas enquanto vocês considerarem que há um caminho, vocês
estão no exterior de si. Não esqueçam que a pessoa e o ego farão sempre tudo
enquanto eles não tenham cedido, para fazê-los voltar em direção ao exterior,
distraí-los, com as religiões, com os gurus, com os mestres, então vocês estão
num processo, nesse momento, de expressão da consciência, mesmo da
supraconsciência, mas vocês encontraram vocês mesmos? Não esqueçam que o
buscador é o buscado. Enquanto vocês não cumprem isso, vocês andam em círculos,
nesta vida, como no samsara e na reencarnação, se justificando, se dizendo que
vocês devem melhorar. Mas qual melhoramento é a questão? Quem diz isso é
somente a pessoa, mostrando por aí mesmo que vocês estão presos nessa ilusão.
Não
esqueçam que nesse saco de carne nós estamos submetidos, todos sem exceção, ao
olhar e ao julgamento do outro e da própria sociedade. Enquanto vocês não
fizerem o retorno para constatar que vocês são independentes de todas as
circunstâncias de seu corpo, de sua vida, de sua saúde e de seu dinheiro, como
vocês querem ser livres? Lembrem-se: ser livre é ser liberado da pessoa e de
nada mais. Isso necessita não da sabedoria, mas de uma aceitação total, franca
e incondicional de que vocês não são essa pessoa nem nenhuma das pessoas no
seio da Ilusão.
Lembrem-se,
eu não me dirijo à pessoa, mesmo em minhas respostas, eu me dirijo ao que pode
compreender, porque é a mesma coisa, e vocês não entendem no momento, para
alguns de vocês. Vejam além das simples palavras o que acontece em vocês diante
dessas palavras.
A Verdade
não sofre nenhum compromisso, nenhum comprometimento, nenhum desvio. A Verdade
é a Verdade, o que quer que vocês pensem, o que quer que vocês vivam. Não há
outra verdade, todo o resto são os divertimentos, as cenas de teatro, onde quer
que seja, em qualquer plano, em qualquer dimensão. É sua liberdade, é claro, mas
não esqueçam que aqui, sobre esta terra, o véu do esquecimento ligado aos
mestres da Ilusão não lhes permite encontrar a saída no seio de sua pessoa. Não
há nem salvador nem carrasco, só há vocês. Enquanto vocês são seduzidos pelas
formas, pelos pensamentos, pelo prazer, vocês não são livres, vocês estão
acorrentados.
A
verdadeira felicidade não depende de nenhuma circunstância exterior, qualquer
que seja, ela só depende de vocês. Por isso é preciso se voltar para dentro de
vocês, não para olhar e acariciar sua pessoa, mas bem mais, como eu havia dito
na época, para refutar tudo o que é passageiro. Suas emoções passam, sua vida
passa, suas lembranças passam, seu mental passará, desde que o saco de comida
desapareça. O que importa para vocês? Absolutamente nada da Ilusão, nem
progresso, nem defeito, nem melhoramento, nem evolução.
A vida e
a morte são apenas um instante efêmero, como esse mundo, que não tem nenhuma
importância e nenhuma utilidade. Isso não quer dizer recusar a vida, mas,
justamente, como eu havia dito ontem, estar vivo. Vocês não podem estar vivos e
ser sua vida, saibam isso, enquanto sua consciência está cavilhada no corpo,
enquanto sua consciência está cavilhada em sua pessoa, em sua história, na
justificação de sua presença ou de seu corpo, vocês não podem ser verdadeiros.
Nada do que diz respeito à pessoa, nada do que diz respeito a uma história
qualquer, é o que vocês são, porque tudo isso é passageiro.
Vocês
querem a paz, vocês reclamam a paz, vocês querem viver a consciência, as
vibrações, o Fogo – e vocês têm vivido, para a maioria. O que vocês esperam
para retornar? O que vocês esperam para mergulhar nisso que vocês são aqui, no
Coração do Coração, como foi dito? Vocês não têm necessidade de ninguém, de
nenhuma referência, de nenhum objetivo. Despojem-se de tudo isso, sejam
verdadeiros, já em vocês mesmos. Não disfarcem nada, não projetem nada, não
interpretem nada, estejam simplesmente presentes, sem objetivo, sem ideia, e
sem objeto – e sem sujeito. Vocês só podem vivê-lo. Não se agarrem aos
conceitos, às crenças ou às histórias, sem isso não há nenhuma liberdade.
O peso de
suas histórias, o peso de sua pessoa, é justamente o que poderá impedi-los e
que será preciso atravessar para se reencontrar. Ora, é muito mais fácil hoje
com esta noção de tempo que lhes é realmente concedida para se descobrir, não
numa história, não numa consciência disso ou daquilo, mas enquanto Verdade. A
Verdade não é uma consciência, a Verdade não será nenhuma palavra, eu falo da
única Verdade que é única, eterna e que não passará jamais.
Então,
quaisquer que sejam os caminhos que vocês possam seguir, num determinado
momento precisará aceitar se ver tal como você é, não nesta forma, não nesta
vida, mas justamente se ver além de toda visão, quer dizer o Parabrahman. Vocês
não podem, uma vez mais, se apoiar sobre nenhum conhecimento, sobre nenhuma
anterioridade, sobre nenhuma projeção e é isso que vocês chamam, no Ocidente, o
instante presente. Vocês não podem estar no instante presente e projetar o que
quer que seja, que isso seja um propósito ou um objetivo de qualquer ordem que
seja. E novamente, eu não peço que me acreditem, eu peço que verifiquem por
vocês mesmos. Verificar não quer dizer buscar o que quer que seja, mas
reconhecer a evidência. Além de toda forma e de toda consciência, vocês são tão
Deus quanto eu, não importa quem – e eu diria mesmo aquele que vocês chamam “o Diabo”,
não é nada senão Deus.
Mas tudo
isso são palavras, e então toda palavra é uma projeção, eu penso que vocês
estão de acordo. Há apenas o que eu nomearia a intimidade da consciência, o
Coração do Coração, que poderá lhes provar que o Absoluto é a única verdade.
Mas a prova, a experiência, não será jamais o estado de Liberado. O Liberado
não tem necessidade de experiência de nenhum tipo, ele está justamente presente
em sua humanidade e em sua eternidade, sem vontade nenhuma de mudar quem quer
que seja ou o que quer que seja. Não há outro objeto, outra função ou outra
visão além de manifestar na forma o que ele é, sabendo que ele não é esta forma
e que esta forma partirá por ela mesma chegada a hora.
A Vida
não é um impulso, a Vida é uma Evidência no seio mesmo da ilusão. A ilusão não
é a vida, mas vocês são a vida. O Cristo havia mesmo dito o que vocês são “O
Caminho, a Verdade e a Vida”. Vocês também podem dizer: “Eu e meu Pai somos
Um”, mas nenhuma pessoa pode dizê-lo. Aliás, não há nada a dizer, não há nada a
perguntar. Quando vocês são livres, vocês não questionam a Liberação porque
vocês não buscaram, ela lhes caiu encima ou dentro mas exatamente, porque o
conjunto dos véus da pessoa, quer se trate da forma, quer se trate dos
impulsos, quer se trate das relações, das emoções, do mental, do causal, não
existem tão simplesmente mais.
Eu diria
então que quando vocês são liberados, essa forma está vazia, mas, no entanto, vocês
se servem dessa forma, não como uma missão, não como um papel a seguir, mas com
uma única evidência possível. Vocês não podem falar nesse momento para o
conjunto da humanidade, porque é preciso respeitar a liberdade e a ignorância
de cada um, mas vocês falam para aqueles que podem entender, não com seus
ouvidos, não com sua cabeça, mas diretamente no coração.
O
Absoluto não tem nenhum caminho porque o caminho já é uma manifestação, e vocês
são anteriores a toda manifestação como a toda consciência. Olhem dentro, sem
ver, porque não há nada a ver, mas vocês constatarão por vocês mesmos que
realmente vocês não são esse corpo, nem mesmo essa consciência que se expressa,
que esses são justamente os veículos. Todo corpo, toda forma, como toda
consciência, são apenas os veículos do jogo do Absoluto. Há apenas uma
consciência. A consciência é mais vasta que o espaço, mais vasta do que o
tempo, mais vasta que as dimensões e os mundos, e, portanto, ela não é nada
porque ela própria se apoia sobre o Parabrahman.
Há então,
em definitivo e em verdade, uma única consciência e um único Absoluto.
Simplesmente, quando vocês estão encarnados, vocês o expressam através de uma
forma, as palavras podem ser diferentes, mas o viver é estritamente idêntico.
Como poderia ser de outro modo? As palavras só significam a cultura residual e
o conteúdo residual existente no cérebro e nas memórias.
...Silêncio...
Continuemos.
Mesmo que
vocês chamem “vibral” dessa forma, definitivamente não é a verdade porque se
trata de uma projeção do supramental. Voltem. O Absoluto não pode ser visto,
ele pode ser vislumbrado em suas primeiras manifestações, mas vocês não podem apreender
o que vocês são, é claro, vocês só podem vivê-lo e vocês constatarão, então, que
vocês não podem apreender nada. Sua vida, sua consciência no seio desta forma, como
esta forma ela mesma, se torna de uma leveza e de uma harmonia que nenhuma
medicina, nenhuma técnica pode obter.
...Silêncio...
Devem,
então, ter necessariamente, um dia ou outro, um retorno de tudo que foi
manifestado pela consciência em direção à não-manifestação, o que a pessoa
chama o nada e para as pessoas, as mais doentias, “a escuridão”. Não há nenhuma
entidade, não há nem escuridão, nem luz, isso já é o jogo da consciência. Não
há nenhuma vibração, a vibração é simplesmente o meio de expandir a consciência
até o supramental, mas o supramental não é a Liberdade. Todos aqueles que estão
parados no supramental ou no Si têm sempre elaborado os projetos para o futuro.
Olhem o Comandante, olhem Sri Aurobindo, o único que escapou a isso foi o Irmão
K.
Há, como
eu disse, uma multidão de mestres e de gurus, mas quem foi capaz de se tornar
satguru, quer dizer, liberado, liberado mesmo desse papel, dessa função? Quem
não tem necessidade de ornamentos, de turbante, de guirlandas de flores, de
decoração. Observem atentamente: desde que haja decoração, desde que haja
vestimenta, há posição e há mentira. Percebam enfim isso, voltem-se em direção
a vocês, deixem de projetar nos caminhos, nas vias, nas histórias quaisquer que
sejam. Encontrem a Paz. Somente o Silêncio leva à Paz. Nenhuma atividade da
consciência pode conduzir duravelmente à eternidade, vocês só podem fazer a
experiência.
É por
isso que houve o Juramento e a Promessa da Fonte, a fim de revelar em vocês, o
que vocês são, porque mesmo sua vida aqui embaixo, sem falar dos mestres da
Ilusão, não pode em nenhum caso ser livre. Vocês estão submetidos à influência
de planetas, vocês estão submetidos à sociedade, vocês estão submetidos às
radiações, quaisquer que sejam, vocês estão submetidos à história. Como vocês
querem ser livres? E quanto mais vocês buscam, menos vocês são livres, saibam
isso. O sofrimento não está em nenhuma parte além do que nesta ignorância de
sua verdadeira natureza e do que vocês são.
Vocês são
seduzidos pelas aparências, vocês são seduzidos pelo ganho, vocês são seduzidos
por sua vida, vocês são seduzidos pelos seus encontros, mesmo sutis. É
perfeito, mas vocês não param aí. Vocês estão no meio do caminho. Vocês sabem
isso? E como sempre, o que está à frente, mesmo falando de amor? O medo. A
pessoa só existe pelo medo. Todavia, é apenas uma adaptação e as estratégias
aos medos. Então, alguns fogem na meditação, para não ter medo, mas não é
preciso fugir, é preciso ser. Ser não se acompanha de nenhum movimento, o Jnani
não tem necessidade de experiências de nenhum tipo, nem de nenhum conselho, ele
é livre. Esta Liberdade não tem necessidade de referências, de papel, de
função, de missão.
Vocês
querem realmente ser livres? Ou preferem o jogo da consciência? Isso não fará
mais nenhuma diferença num dado momento, que isso seja no que vocês chamam sua
morte, ou a morte desse mundo. Como a ilusão pode nascer ou morrer, já que é
uma ilusão? Reflitam.
...Silêncio...
Refletir
não é pensar, é se voltar para dentro, é esquecer toda interpretação, toda
projeção, é ficar no presente. Por isso, há anos, foi questão o Abandono à Luz,
vocês estão prontos a abandonar tudo pela Verdade? É a única questão que vale,
e vocês são livres para dizer não, e vocês são livres para dizer sim, mas não
podem mais hesitar. E não é um ou outro, ou é o Todo a partir do Um, ou o outro
e absolutamente nada. O outro sendo, é claro, a pessoa, a história. O mais
importante dos êxtases manifestados por nossas irmãs orientais, uma que é muito
conhecida de vocês, qual é sua importância? Será que alguém que compreendeu a
ilusão e a vaidade deste mundo vai correr para criar as religiões, as escolas,
os ensinamentos? Por que fazê-lo? O que vocês precisam fazer ao invés de ser?
...Silêncio...
Há
urgência, mas vocês têm a Eternidade, vocês são livres.
...Silêncio...
Outra
questão.
Questão: quando de suas intervenções, nós somos numerosos
aqui a desaparecer, até mesmo a dormir. O que você poderia dizer nesse momento
para nós acompanharmos, visto que não estamos mais aqui.
Mas é
isso que é preciso fazer, para ser.
Questão: então porque não acontece nada para alguns?
Mas não
pode acontecer nada quando vocês desaparecem. Aqueles que não desaparecem deixam
à frente o filtro da pessoa. Novamente, minhas palavras não se dirigem às
pessoas, mas se dirigem ao que vocês são. Se vocês tentam compreender, ou se
vocês estão incomodados pela energia, por minha voz, quem é que está
incomodado? Sua pessoa. Aquele que dorme ou desaparece está pronto para a
Verdade, inteiramente, quaisquer que sejam seus medos, ele os viu. Aquele que
luta e está na pessoa é quem se agarra às minhas palavras, da energia e do
Verbo, mas vocês não têm nada a apreender, bem ao contrário.
...Silêncio...
Repita a
formulação da questão, porque você vai ver que a resposta é essa.
Questão: quando de suas intervenções, nós somos numerosos
aqui a desaparecer, até mesmo a dormir. Quais conselhos você poderia nos dar
para desaparecer ainda mais...
Isso não
é a mesma questão.
Questão: eu já esqueci a questão que eu coloquei...
Então está
perfeito, questão seguinte.
Questão: é verdade que suas respostas, por sua voz retumbante,
são como um bálsamo.
Eu não
estou seguro que todo mundo esteja de acordo com isso, aqui. Mas eh muito bem.
Eu sou
obrigado a falar forte para atravessar a pessoa, porque assim vocês são
abalados, e eu disse ontem, sobretudo se vocês recusam o que eu digo, eu sendo
forte incomodo. Eu estou seguro nesse momento que vocês são tocados, e vocês
serão tocados, se vocês não estão.
...Silêncio...
Questão: ontem, por seu intermédio, eu vivi um estado de
choque que me permitiu começar uma experiência. Eu posso me servir da gravação
de sua voz para ir ao final da experiência?
É claro, depois
só restará o martelo. Minhas palavras, e eu disse em meu viver, eu lhes repito,
não podem falhar, porque minhas palavras não vêm de nenhuma experiência, mas
somente do que eu sou.
...Silêncio...
E como
você disse, o que eu lhes digo não tem que ser acreditado, mas, no entanto,
vocês não podem evitar o impacto, além de sua pessoa, mesmo que vocês não
percebam nada. Eu não procuro nenhum adepto, nenhuma adesão, eu não busco nada.
Eu levo vocês, simplesmente, se é o momento de vocês a verem a verdade através
de todas as máscaras, de toda história, de toda experiência.
...Silêncio...
Outra
questão.
Questão: você disse que é preciso retornar, você tem um
conselho?
Mas,
retornar não necessita de conselhos, nem de técnicas. O único conselho é se
aproximar do Silêncio, da imobilidade, da vacuidade. Guardem, sobretudo, que
não há nada a fazer. É justamente quando você para de fazer, de querer
compreender o que quer que seja, que a Verdade explode. Enquanto você quer
retornar, não acontece nada. Deixe o retorno se fazer. Quando eu digo: “olhar
dentro”, é disso que se trata. Parem de olhar o que emana: seus pensamentos,
suas emoções, suas vidas, sua história.
...Silêncio...
Quando
vocês retornam, quando vocês veem o Verdadeiro onde não há nada a ver, então o
corpo desaparece, como a consciência. O que vocês querem mais? Vocês
constatarão por vocês mesmos se isso já não está feito, como se comporta sua
pessoa no retorno. Desaparecendo, vocês dormindo, mesmo que vocês não tragam
nada e, aliás, o que vocês querem trazer? As experiências? Não. Vocês trazem o
que vocês são, quer dizer um estado permanente, estável. Não há utilidade em
outra experiência. Olhar dentro não é um movimento, é um retorno sem movimento.
É, sobretudo, fazer cessar, não pela vontade, mas pelo abandono das histórias,
das ideias, dos pensamentos. Mas lembrem-se que o Liberado vivente,
evidentemente, tem também os pensamentos, mas ele sabe pertinentemente que eles
não vêm dele. Aqueles que são interessantes, ele pode apreender para
entregá-los, os outros, se escoam espontaneamente. No Liberado nada se agarra.
...Silêncio...
A Verdade
é Paz eterna. É esta a palavra que se aproxima mais.
...Silêncio...
Quando
vocês são Absolutos, esse corpo, mesmo efêmero, se torna, no momento em que ele
desaparece, a Morada da Paz Suprema. O saco de carne, e os sucos de alimentos
que o compõe, muda de qualidade; na proporção da mudança das três gunas, não
são vocês que decidem, é a matéria de seu corpo que entra em conformidade com a
Verdade em qualquer idade que seja.
...Silêncio...
As
questões?
Questão: eu sinto muito forte a noção de despojamento
escutando as palavras que nos martelam.
É
exatamente isso. Vocês não têm necessidade de ornamentos, vocês não têm
necessidade de decoração, vocês não têm nem mesmo necessidade de corpo. Esse
corpo apareceu, vocês estão aí para alguma coisa? Sim, os mestres da Ilusão
fizeram vocês acreditarem. Tentem se lembrar de qualquer coisa de antes de seu
nascimento, de antes dos quarenta dias onde sua consciência começou a estar aí.
Onde vocês estavam? O que vocês faziam? Quem é capaz de dizer? É impossível
dizer. Porque lá onde vocês estavam, tudo era perfeito: nenhuma necessidade de
consciência, nenhuma necessidade de corpo, nenhuma necessidade de manifestação,
nenhuma necessidade de vocês contarem as histórias. A dificuldade estando nesse
mundo, além de esquecer como o conjunto da humanidade esqueceu, vocês têm
criado coletivamente as crenças, as religiões, as sociedades, a fim de
enfrentar seus medos. Nós todos fizemos, mas onde está a Liberdade aí dentro?
O que é a
Liberdade já? Vocês não podem ser livres sem liberdade. E há apenas uma. Todo o
resto são apenas as quimeras e as ilusões passageiras, então isso não tem nada
de eterno. O Princípio pode ser eterno, mas a manifestação, nunca. Observem o
Cristo, observem Buda, observem Milarepa, observem Krishna nas escrituras,
observem Arjuna, observem seus profetas. Então sim, é um colocar a nu, um
despojamento, não há mais necessidade de ornamentos, de decoração, de história.
Esta Verdade lhes preenche, além de todo ornamento e de toda história. Então,
se vocês se sentem despojados e postos a nu, eu lhes digo: “é muito bom, vivam
isso” e depois, como eu dizia em minha vida, entrem em vocês, vivam sua vida.
Vocês sabem, não intelectualmente, mas pela experiência e, às vezes, no estado
estável.
Do que vocês
precisam além de manter a Ilusão da melhor maneira que vocês podem, enquanto
sua forma está presente, respeitando a Vida, respeitando a consciência, mesmo a
mais obtusa; é seu jogo. Qual direito vocês terão de parar o jogo de quem quer
que seja que está numa verdade fragmentada em sua experiência? Só o jogo dos
grandes ciclos, como é o caso nesse momento, remete tudo a zero, mesmo para
aqueles que são obtusos, quer eles queiram ou não. Mas isso depende de vocês? Exceto
agir sobre as condições da pessoa, a sua como de qualquer outra, o que vocês
podem fazer? Nada. Vocês não podem colocar fim a seus dias, sem isso vocês
estão presos.
Vivam a
vida da forma no agora e como está. Apaziguem-se, vocês são perfeitos. Como
pode ser de outra forma? Qual é a alma estúpida que fez vocês acreditarem o
inverso, senão os mestres da Ilusão que são todos asnos e que, portanto, nós
amamos. Porque, definitivamente, qualquer que seja o jogo que vocês jogam, eh
bem um dia vocês terão o fim do jogar. Por isso, é preciso descobrir quem vocês
são. Vocês não estão inscritos em nenhuma história, vocês não se moveram
jamais, vocês jamais nasceram, vocês não estão jamais mortos. Vocês não são
nenhuma forma, vocês não são nenhuma dimensão, vocês são a pura Verdade da qual
nada pode ser dito, porque desde que qualquer coisa é dita é disfarçada e
alterada.
Vocês
podem discorrer, filosofar sobre tudo o que não é Absoluto, mas vocês não podem
dizer nada do Absoluto. Vocês não têm nada a dizer porque isso não é
manifestado, porque não há consciência. Quem poderia dizer o que quer que seja?
E é isso que vocês são. Todo o resto, como eu disse, são apenas os ornamentos e
as decorações do teatro, mesmo a consciência. É uma distração, um jogo, é a
própria natureza da consciência.
Quem quer
testemunhar ainda ou colocar questões?
Questão: eu queria simplesmente expressar minha gratidão
pela grande alegria que eu sinto.
E os
outros?
Questão: eu desejo, se é possível, retornar sobre a vivência
que eu tive ontem.
Com
prazer.
Questão: o estado de grande vazio que eu sentia era vivido
ao mesmo tempo com uma plenitude que eu não teria vontade de parar jamais.
Eis que,
você tudo compreendeu e tudo viveu. Você vai ver, a partir desse momento, a
futilidade da pessoa, a futilidade do jogo. Não é possível mais como andar para
trás, nem de voltar atrás, está perfeito. O vazio está pleno, somente a pessoa
vê o nada, a escuridão. Quando a pessoa não está mais, esse vazio é
efetivamente plenitude, como nenhuma plenitude da consciência ou não importa
qual mundo, pode tocar.
Questão: mas ao mesmo tempo eu tinha o sentimento de não
estar indo ao outro lado da margem.
Isso é a
pessoa que diz, mas eu lhe asseguro que tudo está mudado. A plenitude que você
descreveu não pode ser comparável a nenhuma outra plenitude inscrita na
história da pessoa. Você pode confirmar?
Questão: sim, absolutamente.
Aqui.
Enquanto isso não é vivido, resta o vazio, o nada, o buraco negro, “a
escuridão” para aqueles que se garganteiam de sua pessoa e de sua história
cármica. É um despojamento, é um momento onde vocês não podem mais se agarrar a
nada. Então, efetivamente, no entrar da Infinita Presença, há um sentimento de
vazio, de nada, de sombra, mas uma vez atravessada o que você pode dizer do
outro lado? Nada. Você pode somente dar testemunho deste instante preciso onde
a consciência alterna na a-consciência: é isso que você vive. A partir daí, a
história termina. Você não pode mais ser enganado. Você vive sua vida
normalmente. Mas nada pode interferir.
E se você
me dissesse que tinha visto qualquer coisa do outro lado, eu lhe trataria como
mentiroso, visto o que você me disse e o que eu vi, é evidentemente a Verdade e
nada além. Você não é a consciência, você não é a forma, é isso que você
descobriu. A busca está terminada. Enquanto vocês não são nada, vocês não podem
ser Tudo, é simples. Ser nada, é ser Tudo, é o despojamento, é parar de tudo o
motor do sofrimento, é o parar do samsara, é o parar das reencarnações.
Nesta
plenitude é que tudo é perfeito? Você só pode responder sim. Então, o que vocês
esperam para soltar tudo? Eu não falo de largar sua vida, sua mulher, sua
profissão, é uma atitude interior, não mantenham nada, larguem e descubram-se. Não
há necessidade de pretexto, de decoração, de história qualquer que seja, o Amor
está além de todas as histórias.
Outro
testemunho? Outra questão? Ou você quer completar?
Questão: não, eu lhe agradeço infinitamente. Pensamos que é
complicado, mas é muito simples.
É o que
vocês dizem, todos os Liberados e, portanto, era simples e evidente, mas para
aquele que recusa, é extremamente complicado, é claro. Como vocês querem que
isso seja simples com todas suas histórias, todas suas formas, todos seus pensamentos,
todas suas emoções? Reflitam. E é claro, enquanto vocês estão na pessoa, o que
quer que vocês tenham vivido, vocês vão sempre achar isso complicado. Bem, é
complicado, para a pessoa, é impossível, o único momento onde a pessoa
desaparece, enquanto vocês estão atribuídos a esta forma, é no sono e no
Absoluto. Todo o resto é apenas os obstáculos que impedem vocês de ver. Como
lhes digo frequentemente: “o que vocês têm, têm vocês”. Quando vocês não têm
mais nada, eh bem vocês descobrem a Verdade, é horrivelmente simples. Mas é
horrível – de simplicidade.
Outra
coisa a dizer em relação a isso?
Questão: quando o vivemos, não há mais nada a dizer.
Muito
bem.
Questão: obrigado pelo golpe de martelo.
Eu tenho
diversos tamanhos à disposição. Para atravessar sua pessoa, para me dirigir ao
que vocês são. Para o instante não é um Verbo, mas eu posso pegar um tamanho
maior.
Questão: quando você quiser.
Não hoje.
Se me for dada a ocasião, eu voltarei com outro martelo. Então eu lhes darei
uma amostra, uma pequena amostra.
...Silêncio...
Bem,
voltemos ao tamanho inferior. Continuemos.
...Silêncio...
Questão: a propósito do despojamento, isso me fez pensar no
falecimento de uma pessoa que era muito apegada às coisas, que partiu sem nada
e além do mais pela cremação.
Existe
uma única forma que pode partir com o que quer que seja, isso não é a história,
os remorsos e as feridas? É por isso que a maneira a qual vocês morrem é
extremamente importante, e mesmo que para vocês eu seja uma abominação, vocês
mudarão seu parecer no momento de sua morte. Só isso me importa, se eu posso
dizer. Mas, é claro, que se trata de uma morte, da pessoa, do personagem, é
exatamente isso, e no retorno sua forma está aí, é preciso assumir, mas vocês
sabem que isso dura só um tempo. Então vocês vivem, vocês assumem suas
responsabilidades; se vocês fazem filhos, vocês devem cuidar; se vocês são
casados, vocês devem cuidar um do outro. Mas isso não muda nada, vocês viram o
jogo, vocês viram a decoração, vocês estão despojados e estão certos de que no
momento da morte, desse mundo ou a sua como dizem vocês, isso acontecerá sem
nenhum problema.
Todos
aqueles que foram ao outro lado – sem mesmo falar do Absoluto, mas simplesmente
sair dessa forma, viram a Luz – quando eles voltam, entram num cadáver, esse
saco de alimento não é nada senão um cadáver em experiência. Por
isso que vocês o alimentam, vocês o oxigenam, vocês o mantém, mas o que quer
que vocês façam, ele desaparecerá. Mesmo a Fonte, quando sintetizou seu corpo,
desapareceu. Existe apenas uma única forma que teria por vocação de não
dissolver sua forma pelas portas da morte. Evidentemente vocês todos a
conhecem, nós no Oriente a chamamos de outra maneira. Os chineses a chamam de
um nome específico, Kwan Yin, nós a chamamos de um outro nome, e vocês, vocês a
chamam Maria e a Assunção. Mesmo as duas outras formas que foram Enoque e Elias,
levados com seus corpos, terminaram por abandonar esse corpo.
...Silêncio...
Eu escuto
vocês.
Questão: quem decide a hora da morte?
O saco de
alimento. No seio das pessoas da terra, vocês têm, é claro, as formas que têm
superado sua forma, quer dizer, que foram Absolutas, que foram capazes de
anunciar o dia de sua morte. Sem isso, vocês não seriam nunca informados. Mas
qual a importância para aquele que é liberado? O fim do mundo ou o fim de seu
corpo, a morte não diz respeito ao que está vivo. São vocês que estão mortos
com suas histórias, que são, no entanto, pesos inúteis, incômodos.
Mas,
novamente, vocês são livres para conservarem o que quiserem. A tal ponto que
mesmo que sua forma venha a desaparecer, por sua morte ou a morte desse mundo,
vocês se reencontrarão segundo o que vocês são. Se vocês têm necessidade de
forma, se vocês têm necessidade de matéria, de outros sacos de alimento, eles
lhes serão dados sem nenhum problema. Mas vocês passarão necessariamente pela
lembrança do que vocês são, a fim de serem livres qualquer que seja a forma.
...Silêncio...
Será que
todo mundo desapareceu?
...Silêncio...
Questão: você falou dos quarenta dias antes da concepção e
disse que mais nada existia nesse momento e éramos livres.
Eu nunca
disse isso. Eu disse simplesmente: “quem é capaz de me dizer onde estava antes
dos quarenta dias precedentes à concepção?” Ninguém. Vocês podem fazer voltar
as lembranças de suas vidas passadas, de suas mortes passadas, mas em nenhum
momento de quem eram antes desses quarenta dias precedentes à concepção – não
no nascimento -, quem é capaz de dizer o que quer que seja? Ninguém.
Questão: Por quê?
Mas
porque vocês eram Absolutos, mesmo confinados no seio do astral; era
indispensável. Sem isso, nenhuma consciência pode manter nenhuma forma, mesmo
nesse mundo, nem mesmo criar a menor forma por intermédio dos fluídos dos pais.
Questão: sendo Absolutos, por que nós escolhemos voltar no
confinamento?
Porque
vocês estavam confinados no Absoluto com forma, que era o corpo astral. Era uma
pseudo-liberdade, como aqui, vocês têm necessidade de dormir. Quando vocês
deixam esse plano de Ilusão da Terra, antes vocês entram, sistematicamente, na
Ilusão do astral. E nesta Ilusão do astral, vocês têm um certo tempo para
dormir, a desaparecer, tudo em vocês preso, ainda assim na forma astral, para
em alguma parte obrigá-los a reparar os erros. Mas qual erro? O erro da pessoa
que é passado que está morta? Vocês não veem que é a deturpação do carma? Vocês
não veem a ilusão de tudo isso que não é nada além do que o medo da morte, o
medo do nada, o medo do vazio? O que morre é simplesmente a forma, não o que
vocês são.
Questão: armadilha é ter aderido?
Sim.
Vocês estavam tranquilos, sem experiência, seu corpo astral era mantido pelos
mestres da Ilusão. Vocês dormem no mínimo, depois de sua morte, nesse corpo
astral, durante quanto tempo? Porque vocês nascem sistematicamente no signo no
qual vocês partem, no ciclo dos renascimentos. Então vocês dormem quanto tempo?
Quase um ano. É um sucedâneo do Absoluto, como o sono. Tendo guardado o corpo
astral, armadilhas, vocês endossam as feridas passadas, mas isso não é vocês,
não mais.
Questão: e havia um meio de escapar?
Quantos
escaparam? Quantos satgurus? Quantos verdadeiros mestres que não quiseram jogar
um papel qualquer que tenha existido sobre essa terra? Não há outro meio senão
aquele de desaparecer.
Questão: e vocês, como escaparam?
Repetindo
as palavras de meu guru durante três anos: “eu não sou esse corpo, eu não sou
essa história, eu sou a Verdade”. Era mais do que uma profissão de fé, era o
martelo com o tamanho maior. Isso não pode falhar. Mas desde o instante onde
vocês se agarram ao que quer que seja, vocês não são livres. Mas hoje isso lhes
foi explicado, vocês estão no fim do ciclo, então tudo é mais fácil. Como eu
dizia, é horrivelmente fácil, horrivelmente simples.
Questão: então aquele que não consegue é aquele que não
quer.
Não há
nada a querer, é sua liberdade querer conservar uma forma. Não esqueçam que o
Absoluto não pode ser jamais um objetivo, é uma revelação. Então o querer não
tem nada a fazer aí dentro: é a ignorância, é o peso dos conhecimentos, que é
responsável por isso. Vocês não podem querer porque desde que vocês o vivem, só
podem dizer: “é simples, e todo o resto não existe. E eu estou em mim, eu não
estou mais em nenhum lugar, nenhuma forma. Eu não tenho necessidade de nada,
nem de jogar a consciência, nem nada mais”.
Questão: o que me parecia complexo ontem, mais difícil, era
manter o estado.
Você não
pode mantê-lo. Quando você quer agarrá-lo, ele escapa. Você pode simplesmente
ficar tranquilo, ele está aí. Quando você quer o que quer que seja, isso se
vai.
Questão: é o que eu queria dizer, porque eu sentia que o ego
fazia as tentativas para se reapropriar do momento.
Mas é
claro, porque o ego sabe que ele
está prestes a morrer. Ele descobre que é mortal, que ele não é autoridade. O
que você quer que ele faça, exceto fazer você tomar as bexigas para as
lanternas e querer se agarrar nesse próprio estado que você viveu? Não o ouça.
Você não tem nada a reviver, nem a lembrança do ontem, nem a experiência do
ontem, nem o estado do ontem. Não busque nada e você verá que ele ainda está
aí.
...Silêncio...
E nesse
dia, e nesse instante, quer vocês estejam aqui ou quer vocês leiam em outro
momento, só podem existir duas posições: o desaparecimento ou a desmoralização.
Está muito bem. Porque ser desmoralizado, é reconhecer seus erros e é quando
vocês esgotaram todas as portas de saída, tudo isso ao que vocês podem se segurar,
que vocês aceitam largar para ser realmente o que vocês são, não antes. O único
obstáculo, definitivamente, não são os mestres da Ilusão, nem o confinamento, é
apenas sua pessoa e mais nada. Embora tenha havido um princípio de
confinamento, vocês se enroscaram muito bem para se confinarem sozinhos. Tudo é
feito, nesse mundo, para distraí-los, para ocupá-los, para encontrar o prazer
da alegria e vocês esquecerem o essencial: que vocês não são nada disso. E,
portanto, vocês se apoiaram sobre tudo isso para esperar se reencontrar. Vocês
veem a estupidez disso? Lembrem-se: o Absoluto, o Desconhecido não pode ser
conhecido desde o conhecido. Nada lhe serve, nem o carma, nem conhecer sua
pessoa, isso ajuda vocês a colocar um curativo – e o curativo faz ainda mais
obstáculo ao que vocês são.
Você pode
dizer outra coisa de sua experiência de ontem?
Questão: eu me sentia num tal estado de plenitude que queria
que isso não parasse jamais, porque isso continha tudo. Eu queria que isso
fosse infinito, e isso me era suficiente para sempre.
Esse será
o caso logo que esta forma desaparecer. E você constatará que o tempo lhes
deixa também, que este estado vai, pouco a pouco ou brutalmente, surgir no seio
da pessoa e de sua forma – sem esforço, aí também. Não busque reproduzi-lo e
ele se reproduzirá, porque não depende de você. Mas o fato de ter visto, de ter
vivido, significa que você não tem mais nada a fazer.
Questão: esta noite eu não dormi e eu encontrei um pouco
este estado, e eu vi todos os estratagemas que o ego empregava para me seduzir.
O
Liberado vivente vê tudo isso; você viu, você não pode mais ser enganado. Você
não pode mais jogar o jogo para satisfazer os outros, porque você tem um papel
no seio desta forma, mas você viu todos os estratagemas, todas as histórias,
que o ego lhe conta, todas as seduções que ele coloca em ação para não perder o
controle. Então tudo está cumprido. Permaneça tranquilo, deixe vir a você o que
você é. Não há mais nenhuma dificuldade. Mas não queira reencontrar este
estado, porque mesmo que hoje lhe pareça uma lembrança, ele está em realidade
sempre aí. E você constatará, aliás, nas suas meditações, nas suas noites – não
sempre, mas de maneira cada vez mais frequente.
Questão: qual é a etapa seguinte?
O momento
em que você perderá seu corpo. Você não será jamais preso, nem pela alma, nem
pelo que quer que seja. Você poderá tomar todas as formas que quiser, mas elas
serão definitivamente livres. A Ressurreição não é uma ressurreição da forma,
mas uma ressurreição do espírito. Quando eu vejo a inépcia da ressurreição dos
mortos de certas religiões, isso mostra verdadeiramente que todas essas pessoas
não têm nada na cabeça nem no coração, elas estão unicamente na razão. Todas as
religiões são construídas sobre o medo, sem nenhuma exceção, mesmo os textos
védicos.
Nenhuma
escrita pode traduzir a Verdade, somente o que vocês são que pode vivê-la e, às
vezes, traduzi-la com suas palavras a vocês. É tudo. Quanto mais esse estado se
instalar de maneira clara, mais você constatará que as necessidades de sua
forma não existem mais, que o medo não pode mais se instalar. Como o ego foi
visto, então você não pode mais ser seduzido. Viva sua vida e seja livre.
Questão: vamos fazer a festa.
Quando?
Questão: em seguida.
Então
façamos a festa. Eu tenho tempo?
Questão: sim, vinte minutos.
Então
façamos a festa vinte minutos.
...Silêncio...
Nesse
caso Bidi e nós todos juntos, nós vamos fazer uma pausa. Eu saúdo vocês. Até
logo para a continuação.
***
Tradução do Francês: Mariana Anzzelotti
Lembrem-se: ser livre é ser liberado da pessoa e de nada mais.
ResponderExcluirO peso de suas histórias, o peso de sua pessoa, é justamente o que poderá impedi-los e que será preciso atravessar para se reencontrar.
Parem de olhar o que emana: seus pensamentos, suas emoções, suas vidas, sua história.
Só o jogo dos grandes ciclos, como é o caso nesse momento, remete tudo a zero, mesmo para aqueles que são obtusos, quer eles queiram ou não.
Vocês podem discorrer, filosofar sobre tudo o que não é Absoluto, mas vocês não podem dizer nada do Absoluto.
Enquanto vocês não são nada, vocês não podem ser Tudo, é simples.
Não esqueçam que o Absoluto não pode ser jamais um objetivo, é uma revelação.
Quando você quer o que quer que seja, isso se vai.
O único obstáculo, definitivamente, não são os mestres da Ilusão, nem o confinamento, é apenas sua pessoa e mais nada.
Questão: o estado de grande vazio que eu sentia era vivido ao mesmo tempo com uma plenitude que eu não teria vontade de parar jamais.
ResponderExcluirEis que, você tudo compreendeu e tudo viveu. Você vai ver, a partir desse momento, a futilidade da pessoa, a futilidade do jogo. Não é possível mais como andar para trás, nem de voltar atrás, está perfeito. O vazio está pleno, somente a pessoa vê o nada, a escuridão. Quando a pessoa não está mais, esse vazio é efetivamente plenitude, como nenhuma plenitude da consciência ou não importa qual mundo, pode tocar.
-- Nesta questão, que é um testemunho, mostra a Graça em ação, a aceleração nestes dias atuais. O Absoluto, a Liberação, não é um objetivo, mas a consequência do Abandono à Luz, consequência do desaparecimento da pessoa. Isso é o nascer de novo, verdadeiramente.
Rendo Graças, as palavras não podem expressar o que vivemos
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