Do Coração ao Coração
Um encontro intimista
20 de setembro de 2025
TRECHO DE BIDI
O Silêncio
Pergunta: Como retornar a cada dia, entrar nesse grande Silêncio ou reconhecer
esse grande Silêncio como nossa casa? Há fases de pausa diárias a serem feitas?
Como proceder? Ou esse grande Silêncio é nosso estado permanente e basta
senti-lo?
Bidi: Várias coisas importantes: não busque esse estado, sobretudo se já
o viveu. Você não pode nomeá-lo nem chamá-lo para que ele esteja presente. Mas
é simplesmente através da qualidade da sua presença no cotidiano — eu diria, a
intensidade e a qualidade da sua presença, tanto como observador quanto como
personagem do sonho — estando atento não a pensamentos ou explicações, mas
simplesmente à atenção em permanecer na aceitação do Instante Presente.
Você deve compreender bem que não existe técnica. Talvez tenham existido
práticas que permitiram a vocês viver, por exemplo, as ressonâncias Agapè
com o ritmo ternário do coração. Se bem me lembro, Abba transmitiu a vocês uma
técnica de osteopatia triunitária que tinha como finalidade fazê-los viver o
Instante Presente e o Si.
Esqueçam toda noção de esforço, toda noção de intenção ou de vontade.
Contentem-se apenas com a atitude de espírito, se posso dizer assim, de estar
unicamente no instante que se vive, literalmente deixando-se atravessar pelo
que É, sem buscar nada além disso. Nesse momento, vocês poderão constatar que
há instantes cada vez mais intensos e, por vezes, longos, em que esse Silêncio,
esse Estado Natural está aí, aconteça o que acontecer com o personagem, tenha
ele o que tiver de fazer.
A técnica seria mais como pensar em algo que se libera, mas não que se
faz. É ao mesmo tempo uma deslocalização da consciência do personagem e uma
localização do observador, eu diria sublimado, transcendido, que toma
consciência — como expliquei muitas vezes — de que a cena de teatro, o jogo do
ator, a postura do observador, em sua delicadeza e na qualidade do abandono ao
que é, de repente te faz compreender que nem o ator, nem o observador, nem o
teatro existem.
Isso não pode ser uma prática, mais uma vez, mas sim a lucidez do
instante — lucidez desprovida de qualquer necessidade de explicar ou se
apropriar de algo — que te torna cada vez mais disponível para o Real. Você
pode praticar isso, se podemos falar de prática, tanto limpando a casa quanto
dando uma aula, conversando ou dialogando com um irmão ou uma irmã.
Não se trata de meditação. Alguns de vocês poderiam chamar isso, está na
moda hoje, de “atenção plena”. De todo modo, é primeiro uma ampliação
importante da percepção e, num segundo momento, o desaparecimento mesmo daquele
que percebe. É assim que a Verdade, o grande Silêncio, como você o chama, vai
literalmente se infundir em todas as partes do seu corpo físico, esse saco de
carne, mas evidentemente também nos corpos sutis.
Não procurem tirar proveito do grande Silêncio ou recriá-lo, pois essa
simples vontade já os afasta dele. Sejam apenas lúcidos e totalmente presentes,
qualquer que seja a ação realizada, e esses aspectos do que hoje no Ocidente se
chama “atenção plena” vão, por si mesmos, revelar o Real. Ou seja, aquilo que
vocês são antes mesmo do surgimento da consciência e, portanto, da percepção.
Mas, sobretudo, a vida de vocês se torna testemunho do Vivente. Creio
que tanto o Comandante dos Anciãos, quanto Abba, lhes falaram disso hoje mesmo:
é verdadeiramente a aceitação do que é, como é, que os conduz a literalmente
desmascarar a ilusão da consciência. É assim que se abre em vocês, cada vez
mais amplamente, a vacuidade e o grande Silêncio.
Vocês fazem o que têm de fazer, mesmo que o personagem ou a consciência
estejam, como vocês dizem, cansados, saturados de viver esse pesadelo. Mas
sabem perfeitamente que não podem fazer outra coisa senão permitir que se
expressem os sentimentos e percepções da pessoa, assim como as emoções e
pensamentos que podem vir de memórias ou simplesmente de hábitos.
Em resumo, basta observar o jogo do personagem, o jogo do ator, observar
da mesma maneira o jogo do observador, sem opinião alguma, sem julgamento
algum, e então o Silêncio aparece.
O Silêncio é o resultado da extinção da vontade e da implicação — dessa
ideia de estar envolvido, de levar algo a peito, de querer fazer alguma coisa.
Quando vocês veem esse jogo, quando percebem esse personagem e esse testemunho,
e não interagem com isso, deixam apenas que o que acontece se desenrole. Então,
nesse momento, estão disponíveis para o grande Silêncio.
Lembro, contudo, que o grande Silêncio não é a ressonância Agapè.
A ressonância Agapè é a tradução do Coração do Coração — se preferirem,
a manifestação do Coração do Coração — enquanto o grande Silêncio não pode
propriamente “ressonar”, mesmo que se fale de ressonância do Silêncio. Esse
Silêncio é ao mesmo tempo pleno e vazio, o que prova, de modo evidente, que
vocês se encontraram consigo mesmos.
O grande Silêncio não é resultado de uma expansão da consciência, nem
sequer do acesso ao Supra Mental, mas é a extinção de toda forma de consciência
— aquilo que eu chamava de Parabrahman, o Absoluto — que não é uma Presença,
mas precisamente uma ausência. É essa ausência que cria literalmente a
Presença. Isso não pode ser explicado com palavras ou conceitos, mas é
plenamente compreendido quando é vivido.
Não se esqueçam de que, no grande Silêncio, é aí que vocês se lembram do
que são, de fato. É assim que acontece. Mas, efetivamente, na dinâmica
individual e planetária, há uma elevação vibratória, a abertura das portas e
das novas virtudes espirituais — que eram chamadas, no que vocês receberam, de
estrelas e portas — e que até alguns anos atrás constituíam o caminho lógico do
acesso da consciência à Supra Consciência. Portanto, havia, por assim dizer,
etapas a viver e atravessar.
Hoje, pela ação da Inteligência, pela ação do próprio roteiro da
Criação, vocês já não precisam de modo algum passar por essas etapas
vibratórias, por essas estrelas, por essas portas, pela abertura de novos
corpos. Aliás, há muitos irmãos e irmãs que falam do Absoluto sem jamais terem
conhecido chakras, estrelas, portas ou mundos vibratórios.
Quaisquer que sejam as palavras empregadas por aqueles entre vocês que
se exprimem sobre sua vivência, é claro que pode haver ainda confusões de
termos ou de expressões. Mas o mais importante não está aí: o essencial é o que
é transmitido além das palavras por aqueles que viveram o Real.
Portanto, lembrem-se antes de tudo que toda prática é supérflua. Ainda
assim, vocês podem se aproximar de si mesmos através de momentos de imersão,
como lhes disse e repetiu o Comandante — em especial na Natureza, sobretudo com
as Árvores. Estejam o máximo possível em ambientes naturais, porque é aí que se
torna mais fácil não participar das egrégoras que os puxam, em especial as
egrégoras religiosos que hoje chegam ao fim.
O objetivo de vocês não é defender um ponto de vista ou uma opinião. O
objetivo não é nada além de Ser o que vocês São. É assim que vocês se ajudam a
si mesmos e ajudam a totalidade dos sonhadores. Não pelas palavras, nem mesmo
pelas ressonâncias Agapè, mas pela informação que emana de vocês quando
estão no grande Silêncio.
É essa atmosfera particular que alguns irmãos e irmãs — que me
encontraram quando eu estava encarnado — sentiam claramente em meu espaço de
encontro. Não era uma atmosfera de devoção ou de canto, mas simplesmente um
lugar de encontro consigo mesmos, na mais profunda simplicidade. Minhas
palavras, meus discursos, meus silêncios, minhas entonações, não provinham de
qualquer ensinamento ou técnica, mas apenas da minha simples Presença, onde eu
não era nada, mas deixava transparecer e aparecer o grande Silêncio.
Isso era algo muito pouco conhecido em minha vida encarnada, mas que,
desde 1984 — portanto, há quarenta e um anos —, está cada vez mais acessível a
vocês, assim que deixam para trás seus delírios espirituais, suas projeções em
um futuro luminoso, e deixam de estar submetidos às memórias e aos hábitos.
Essa oração, esse estado, é o mais justo para que vocês se reconheçam.
Sejam simplesmente disponíveis, totalmente disponíveis, totalmente
presentes, deixando ser o que é. Então vocês se encontrarão consigo mesmos. Já
não é tempo de praticar a abertura dos chakras, já não é tempo de viver
experiências vibratórias multidimensionais. Em outras palavras: não é mais
tempo de brincar. O tempo é o da Verdade, qualquer que seja a vida de vocês,
quaisquer que sejam suas implicações neste mundo.
Como disseram outros antes de mim: vocês não estão aqui para sobreviver,
não estão aqui para evoluir, não estão aqui para sofrer e se restabelecer.
Vocês estão aqui, neste saco de carne, para descobrir o que vocês São. Como eu
dizia quando estava encarnado: basta simplesmente rejeitar tudo o que aparece e
desaparece — uma emoção, um pensamento, uma criança, um pai, uma mãe. Tudo o
que um dia surgiu, um dia desaparecerá. E, portanto, ao recusar tudo o que é
transitório, ilusório, vocês abrem a porta para o que Vocês São.
Mas vocês não podem se apegar a uma vibração, a uma experiência ou a um
estado, seja qual for sua beleza ou o drama que vivam. Isso não lhes diz
respeito. Não é uma negação do que é, como poderia pensar o personagem, mas é
uma resolução. É assim que vocês encontrarão o Real — não de outro modo.
Aliás, se vocês estão aqui e escutam minhas palavras — ou as suas
próprias quando se expressam —, se realmente escutam, se ouvem e permanecem na
benevolência da neutralidade, no acolhimento, então, sejam quais forem as
palavras, as minhas, as suas ou as de Ma Ananda, o resultado será sempre o
mesmo: quanto mais vocês estão aqui, no instante presente, mais são suscetíveis
de desaparecer de si mesmos.
Lembrem-se: a descoberta do Real põe fim a toda busca, a toda procura,
no que diz respeito ao que vocês são. A pessoa continuará precisando dormir,
precisará de afeto, precisará se alimentar. Mas vocês já não serão mais
afetados por essas atividades.
É claro que, num primeiro momento, para aqueles que começam a viver
isso, pode surgir uma sensação de irrealidade ou de instabilidade. Isso é
normal, é um aprendizado. Os reflexos da pessoa tentarão se apropriar do
Absoluto dentro de suas próprias referências, mas essa ideia logo será
abandonada: o Absoluto não pode ser qualificado, e muito menos quantificado.
***
A equipe de transcrição
Texto em https://apotheose.live/
Tradução: Marina Marino
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